Diário de Bordo IV - a caminho de Bariloche e o Vulcão Osorno

Como verão, não foi preciso recorrer a "Juan de la Cruz". Chegamos inteiros a Bariloche. Seguem nossos relatos escritos no ônibus para cá.

Olá pessoal,

Agora que estamos metidos no terceiro “cata jeca” (até agora não pegamos um ônibus que saísse no horário e não parasse 150 vezes antes de finalmente seguir viagem, a não ser aquele “britânico” da excursão a Peulla que saiu bem atrasado de Puerto Varas e depois quis tirar a diferença em Salto de Petrohué nos largando por lá), indo para Bariloche, aproveito o momento “nada pra fazer” e aquele espetacular netbook já citado, para contar nossas aventuras.


Sábado alugamos um carro e fomos conhecer o vulcão Osorno (dava para ir em excursão, mas preferimos nos perder por conta própria desta vez a sermos perdidos por outro guia a mais 2000 metros de altitude). Início da manhã ensolarada, mas foi o tempo de tomar o café e começou a nublar... carro já parado na porta, decidimos seguir em frente. Foi a melhor decisão, pois pouco depois o tempo foi melhorando. Por aqui é assim, às vezes o tempo parece feio e depois melhora, parece muito frio e depois esquenta... A gente acaba feito cebola – veste casaco, calça, ao longo do dia vai tirando e no final veste tudo novamente (a mochila é item indispensável).

Seguimos para o Parque Vicente Perez Rosales sem dificuldade e até que em um mirante topamos com um casal de brasileiros acompanhando de seu selvagem adolescente – mala sem alça e sem rodinha. Arrumaram um bate boca infinito e nos fizeram fugir para o teleférico, onde é puro silêncio.

Que sensação maravilhosa! Quando a cegonha nos larga aqui nesta vida, devia dar um tíquete com direito a trinta minutos (em duas partes de teleférico) de silêncio e bela paisagem vez ou outra. Subimos completamente sozinhos até quase o cume e usufruímos bem mais que os trinta minutos de sossego até que o casal de gralhas e o selvagem apareceram como touros em loja de cristais.

Putz! Tem hora que brasileiro é uma praga! Ainda bem que não tinha mais ninguém para participar daquilo e nos matar de vergonha. Procuramos, mas o diabo não estava lá... talvez estivesse no corpo do selvagem ou na mãe dele (o pai era uma plasta). Talvez esteja no corpo de alguém por aí... observe.

Como demoramos para voltar do Osorno, desistimos de retornar a Frutillar (cidadezinha linda e calma onde haveria um concerto de música erudita no novíssimo teatro) e ficamos na praia de Puerto Varas que estava ensolarada (no mesmo dia saímos de luvas e gorro para biquini e short (não! desta vez ele não trouxe sunga!). Má ideia – os chileninhos pulando alegremente na água nos enganaram direitinho... a água é um iceberg líquido! Nem o Álvaro teve coragem de molhar mais que os pés.

O cardápio deste dia foi um macarrão feito com a “tinta” do polvo e frutos do mar, delicioso. O Álvaro pediu algo como raviole de coelho com um molho de tomate, conhaque, caramelo e creme de leite também, excepcionalmente bom. Tudo fresco, inclusive a massa. Até o vinho da casa, servido em taça, era muito bom (nome do restaurante boutique, definitivamente nossa melhor refeição até agora: Pastagonia). Inesquecível!

Intervenção do Álvaro: ontem a Virgínia se orgulhou de mim! Conversamos um tempo com um casal belga e um americano de Washington DC; eu falando e traduzindo para a Virgínia. Ela ficou toda satisfeita e eu também porque o americano elogiou meu inglês, mas tenho certeza que se ela soubesse inglês não sairíamos de lá antes de meio-dia :)

Ontem, diante da constatação de que o lago realmente não é nossa praia, arriscamos ir à ilha de Chiloé. Domingo, sem planejamento algum, simplesmente fomos à empresa de ônibus e compramos a passagem. Há duas atrações principais por lá: a cidade de Castro, a maior da ilha, com suas palafitas e igrejas de madeira tombadas pela Unesco e Ancud, cidade um pouco menor, de onde partem as excursões para a pinguineira. Não dava para ir às duas (mais de 100Km de distância entre as duas e usando transporte público), então escolhemos Ancud.

Para mineiros a viagem por si só já uma aventura, pois o ônibus segue parte da viagem em uma espécie de “ferry boat” por cerca de meia hora pelo Pacífico. Permitem que o passageiro saia do ônibus, então, lógico, fomos aproveitar a paisagem. Por aqui há um tipo de pato de mar (que não voa) e umas gaivotas que ficam navegando pelas águas e que na minha ignorância náutica, nunca vi por aí.

Chegando a Ancud, surpresa! Domingo: tudo fechado, até o centro de informações turísticas... com “tudo”, quero dizer tudo mesmo. Tinha só uns adolescentes na pracinha e duas barraquinhas de artesanato sem graça, abertas. Resolvemos ir para o porto para ver se haveria algum transporte para as pinguineras e, perguntando (não sei se quem tem boca vai à Roma, mas à pinguineira, posso garantir), descobrimos o dono de uma van, já lotada, que informou ser necessário fazer reserva um dia antes.

Acho que a minha cara de cachorro que caiu da mudança foi tão comovente que ele perguntou de onde éramos, telefonou para alguém, depois para outro e me disse que poderia arranjar tudo se esperássemos... 15 minutos!

Contratamos na hora, sem saber como seria. A esposa do sujeito, que é uma orgulhosa chilota e taxista, circulou por esta parte da ilha conosco mostrando as paisagens que normalmente os turistas de excursão não veem (litoral recortado e mar azul turqueza). Nos levou até a praia onde está a pinguineira e esperou nossa volta. Apesar de não ter píer, lá você não molha nem os pés para entrar no barco, pois te levam anum carrinho por tração humana ao barco que se desloca por uns 5 minutos até as ilhotas. Chegamos no período da tarde, quando os pinguins estão buscando comida:(( então não havia milhares, mas ainda assim valeu – conhecemos pinguins magalhanicos e pinguins de Humbold, aves marinhas e um único filhote de leão marinho que não mexeu nem a cabeça e que o Álvaro afirma que é de pelúcia e foi colocado lá só para empolgar turistas (diz ele que é por isto que não nos deixam descer do barco e por a mão:)).

Voltamos para Ancud (já eram 18h, sol a pino) e paramos para comprar umas empanadas antes de seguir viagem. A moça que nos atendeu disse que serviria o peixe mais rápido e sugeriu algo chamado “cancato” ou coisa parecida: salmão, batata, alho, cebola, tomate, queijo derretido e linguiça! O salmão estava bom, mas a “mistureba” dos outros ingredientes, completamente dispensável. Pedimos uma única porção pretendendo jantar em Puerto Varas, mas foi impossível – esta certamente foi a maior porção de salmão (um dos produtos locais) que já vimos.

Ah, nestes dias descobrimos também que estávamos dormindo numa atração turística da cidade! The Guest House, nossa pousada, é uma casa da época da colonização alemã, totalmente restaurada, que faz parte do circuito histórico de Puerto Varas.

Como ainda faltam muitas horas de viagem, relato que os ônibus por aqui têm um letreiro informando o nome do motorista, o tempo que ele está dirigindo, condições climáticas e... o nome do santo do dia... deve ser recado para “agarrar” com Deus... Agora há pouco o letreiro apitou informando que o motorista excedeu a velocidade indicada e instruindo os passageiros a reclamar com o motorista ou telefonar para a empresa (Cruz del Sur) e denunciá-lo. Na terceira vez que o letreiro apitou, o trocador foi lá e tomou providência: marchou até a cabine, abriu a porta, chegou bem perto do motorista e... desligou o letreiro! Agora, se o mundo acabar, não saberemos, mas dizia o letreiro que o santo do dia é “Juan de la Cruz”. Nunca ouvi falar, mas parece que a partir de agora é com ele que devemos contar:))

Curiosidade do caminho, além dos lagos e dos Andes: várias fazendas (“fundos”) tinham umas coisas parecendo “pufs” gigantes espalhados pelo pasto. Contamos depois se descobrirmos o que são... (O Álvaro acha que é para as vaquinhas descansarem, já que esta região é responsável por 80% da produção de leite do Chile).

Nos disseram que os mosquitões só “funcionam” em janeiro. Diz um chileno que no dia 01/02 eles vão embora e só voltam no próximo ano. Eu ainda acho que eles fazem “ponto” em Peulla, onde vimos e fomos protagonistas exatamente da cena que você descreveu: todo mundo pulando e se abanando para afastar a gangue. Quanto ao mote com huesillos, eu posso até levar para você, mas pode me incluir fora desta. Que troço ruim! Prometo também guardar os caroços de pessego que comer, especialmente para você.

P.S.:Juro que eu já tinha terminado meus escritos, mas depois de pararmos na aduana argentina fui obrigada a retornar. Calculem: em um ônibus cheio, com bagagens sendo verificadas pela segunda vez (já tinhamos parado pouco antes na aduana chilena), adivinhem qual mochila escolheram para abrir? A do Álvaro! Graaaannnnde, com dois cadeados... uma lindeza, saco de roupa suja, tênis... produtos altamente perigosos... tipo assim... as cuecas do Álvaro....kkkkkkkk Se fosse a minha mochila, tenho certeza que o policial mandaria fechar imediatamente, mais parecia uma hecatombe. Juro.

Outra coisa: a vista da estrada depois que entra na Argentina é linda! Passamos por dentro do Parque Nahuel Huapi !

Bem, agora é SÓ mesmo ! Eu acho...


beijos a todos,

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Esse relato é de Virgínia Gomes, ela e seu marido Álvaro Lassance estão na Região de Los Lagos no Chile, curtindo merecidas férias.


E como a Virgínia sempre escreve seu Diário de Bordo para compartilhar com os amigos, aqui estou eu compartilhando com meus amigos no Blog Para Rascunhar. 


Veja onde fica a Região de Los Lagos no Chile. 

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